Confira o artigo de Ana Garcia no Massa Crítica número 61:

“No dia 11 de abril, uma comissão de pescadores, moradores e moradoras de Santa Cruz, impactados pela siderúrgica TKCSA, recebeu uma comitiva do Bundestag (Parlamento Alemão) que trata de temas relacionados à saúde na área da cooperação internacional. Foi uma em muitas outras visitas ao bairro, ao longo dos últimos anos, de atores e entidades importantes, nacionais e internacionais…”

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RPORTAGEM: Fran Ribeiro (11/abril/2013)

Moradores e Pescadores de Santa Cruz fazem denúncias à parlamentares alemães 

“Antes, morar aqui era bom. Tínhamos o rio, os trabalhadores sem terra cultivando alimentos, podíamos respirar um ar puro. Nos últimos anos, estamos vivendo um processo de destruição”. O relato de dona Marta, de 70 anos, e moradora do bairro de Santa Cruz, na zona oeste do Rio de Janeiro há mais de cinquenta, foi um dos que os quatro deputados alemães, representantes da Subcomissão de Saúde da Comissão Parlamentar de Cooperação Econômica e Desenvolvimento do Parlamento da Alemanha ouviram durante a reunião com moradores/as e pescadores que vivem no entorno da Thyssen Krupp Companhia Siderúrgica do Atlântico (TKCSA), nessa quinta-feira (11).

O encontro entre os parlamentares e os atingidos pela siderúrgica foi articulado pelo Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul (PACS), e teve a presença de representantes de outras organizações como a Justiça Global, o Instituto Mais Democracia, além de representantes de mandatos do legislativo municipal, estadual e federal, e pesquisadores da área da saúde da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, que desde 2010, ano que a TKCSA começou a operar mesmo sem a licença definitiva, travam ao lado do moradores/as e pescadores a resistência contra os impactos causados pela empresa.

Denúncias de violações de direitos

Com diversas ações civis e respondendo por duas ações penais no Ministério Público Estadual, a TKCSA desde o início de sua instalação na Baía de Sepetiba, se tornou um tormento para a população da região. Os impactos atentam diretamente no direito ao trabalho dos pescadores artesanais, além da liberdade de se viver tranquilamente. Os casos de morte pelo agravamento de doenças existentes devido à exposição continuada de partículas suspensas (os casos de chuva de prata) emitidas pela empresa, o aumento de casos de doenças respiratórias, dermatológicas, violações ambientais e denúncias de ameaças cometidas em nome da empresa foram relatadas aos representantes do Parlamento Alemão.

“Eu trago aqui folhas da planta que eu tenho em minha casa, onde os senhores poderão ver claramente o pó prateado. Eles disseram que acabou, mas de oito em oito dias a chuva de prata que eles dizem ser grafite, invade as nossas casas”, relatou a dona Sueli Barreto, que pediu uma intervenção dos parlamentares na situação. A TKCSA atualmente se encontra em processo de venda, mesmo não cumprindo a legislação brasileira, e tendo recebido o equivalente a 1 bilhão de euros em financiamentos com dinheiro público do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Social) e de isenções fiscais tanto no âmbito municipal quanto estadual.

“Queremos que antes da empresa ser repassada a pratos limpos para outro dono, que a TKCSA repare os danos que nos foram causados. Mais que isso, que a estrutura que tanto nos trouxe prejuízos, seja transformada em uma universidade, que traga uma contrapartida à população de Santa Cruz”, disse dona Marta.

Segundo Sandra Quintela, economista do PACS, a reunião com os parlamentares apresentou pontos positivos, mesmo eles mantendo uma postura fechada às necessidades apresentadas. “Os posicionamentos dos parlamentares em um todo mostraram como eles são fechados, mas tiramos saldos positivos do encontro. O presidente da comissão acatou a solicitação dos moradores e se comprometeu em levar amostras do pó emitido pela TKCSA para serem analisadas cientificamente na Alemanha, algo que o INEA (Instituto Estadual do Ambiente) nunca fez. Além disso, eles se comprometeram em analisar os documentos apresentados por nós e confrontá-los com as argumentações apresentadas pela diretoria da TKCSA. E esses comprometimentos nós iremos cobrar”, concluiu a economista, que enfatizou que os passivos gerados pela empresa alemã à população e ao meio ambiente do entorno da siderúrgica não podem ser eliminados com a sua venda, o que se caracteriza um crime contra à vida e à soberania brasileira.

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