Beatriz Noronha do PACS
A sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) acolheu na última sexta-feira (14) comunicadores alternativos, comunitários e populares em uma noite de homenagens e celebração da comunicação contra-hegemônica. A noite de festa do dia 14 de junho foi também de comemoração simbólica do nascimento de Ernesto Che Guevara.
A abertura da cerimônia foi envolvida por outro simbolismo de grande força – a presença resistente da Aldeia Maracanã. Fazendo menção às recentes manifestações no Brasil, a resistência da Aldeia iniciou a cerimônia fazendo um apelo pela união das lutas, “nós não queremos mais ser criminalizados. Nós não vamos passar por terroristas, estamos todos lutando por nossos direitos. Nós queremos nosso direito à memória e nosso direito a identidade”.
Em tempo de renovação de militâncias e dos próprios movimentos, os comunicadores que se dedicam às mídias alternativas e comunitárias são responsáveis pela criação de instrumentos e ações fundamentais junto às lutas sociais cariocas. O jornal Brasil de Fato, homenageado da noite, traz a perspectiva para um outro fazer jornalístico ao longo dos 10 anos de atividades.
Vivemos um momento propício para reforçar o papel de uma comunicação contra-hegemônica como ação fundamental nos processos de transformação social. Para o vereador Renato Cinco, “a homenagem é uma forma de festejar aquelas e aqueles que estão do nosso lado da trincheira. Estamos em luta pela democratização dos meios de comunicação, precisamos lutar para que nossos meios existam”. Completou dizendo que é preciso “lutar pela distribuição dos recursos públicos destinados aos meios de comunicação para a produção de uma comunicação alternativa”.
Uma verdadeira “celebração da emancipação humana”, foi como o deputado Chico Alencar referiu-se à cerimônia, fazendo uma retrospectiva da história da comunicação de esquerda e alternativa no país como um processo muito rico mas também vulnerável às repressões de monopólios e interesses políticos. “O monopólio é antigo, porque o contraponto a isso incomoda”.
Alertou para a importância de se garantir uma liberdade de imprensa real, em oposição ao que chamou de “liberdade de empresa”, criticando os oligopólios e monopólios que detém poder de comunicação. Alencar ressaltou ainda que há uma exigência para a comunicação contra-hegemônica: qualidade. Segundo o deputado, o caminho para que essa comunicação ganhe cada vez mais força e reconhecimento deve passar, necessariamente, pela construção de “identidades visuais, textos bem escritos e preocupação social”. “Juntar a qualidade visual, gráfica, informativa à qualidade das nossas causas é fundamental neste processo”, encerrou.
Em certa altura ouvi que o facebook, as redes sociais, não eram sociais, porque social é “cara a cara”, “corpo a corpo”, como disse Chico Alencar, são assim redes virtuais, de fato. Mas seja lá ou aqui, todos acreditamos no poder da mobilização humana que pode se valer de instrumentos, tecnologias e locais diversos para acontecer. Se uma manifestação é movimentada por uma página na internet, ainda que sob o título de “revolucionários de sofá”, seria leviano excluir dessa nomenclatura seu potencial de revolução.
Diferentes instâncias, diferentes momentos históricos, isso também faz e cria uma comunicação contra-hegemônica. Marcar presença em um evento via facebook também é estar presente, “já existe uma circulação de notícia, da vontade de luta e de informação”, como disseram à mesa da celebração. Agora, se todos vão sair do computador para as ruas, a vida é pouco a pouco, e atuamos sempre em diferentes instâncias – que só não nos tome a inércia e ignorância cegas que nem vão às ruas, nem conseguem escrever uma linha que não seja a linha do próprio umbigo nas redes ‘sociais’.
A luta que se segue é pela democratização e institucionalização dos meios de comunicação como caminho para uma possível e eficaz liberdade de imprensa e liberdade de construção jornalística para uma comunicação que sirva, de fato, às diferentes vozes – sobretudo às marginalizadas e oprimidas – que formam uma sociedade. Como disse o deputado Marcelo Freixo, “democratizar um meio de comunicação é fundamental para democratizar uma sociedade!”.
“Um outro jornalismo é possível”, sob essa máxima, a produção de comunicação, conhecimento e informação precisa, incansavelmente, incitar movimentos e transformações para que a sociedade que aí está torne-se um lugar melhor para se viver, à todas e todos, cotidianamente.
Há ainda muito a ser feito para que a comunicação, como instrumento de transformação e lugar de construção de conhecimento, alcance mais pessoas em todas as partes do mundo. Há, antes de tudo, uma necessária transformação na forma de pensar e sentir diante do mundo, diante das triviais desonestidades praticadas e das violações humanas e de direitos, tão enraizadas e normatizadas nas sociedades.
Uma frase parece representar bem o anseio em trilhar um novo caminho para a comunicação, a sociedade e todos os indivíduos em suas peculiaridades, nas palavras de Che: “Se você é capaz de tremer de indignação a cada vez que se comete uma injustiça no mundo, então somos companheiros”, e que assim seja.
Trazendo o funk como “veículo de comunicação e cultura”, Mc Leonardo e Repper Fiel encerraram a noite.
Homenageados
Agência Petroleira de Notícias
Núcleo Piratininga de Comunicação – NPC
Agência de Notícias das favelas – ANF
Jornal O Cidadão
Jornal Voz da Favela
Jornal Sem Terra
Jornal Abaixo Assinado de Jacarepaguá
Boletim MST-Rio
Comissão em Def. da Liberdade de Imprensa e Dir. Humanos (ABI)
Blog Hempadão
Portal Consciência
Portal Comunitário da Cidade de Deus
Programa Faixa Livre
TV CAOS
Domingo É Dia de Cinema
Bloco Planta da Mente
Bloco Nada Deve Parecer Impossível de Mudar
Samuel Tosta
Escola de Fotógrafos Populares da Maré
Palestrantes e Convidados
Mauro Iasi, Chico Alencar, Ana e Silvio Tendler
Marcelo Freixo, Mário Augusto Jakobskind, Cáudia Santiago
Renato Cinco, João Pedro Stedile e Nilton Viana
Mc Leonardo e Repper Fiel
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