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Quando se fala em Economia geralmente vem à cabeça ideias relacionadas a cifras, moedas, tabelas e gráficos que quantificam as coisas e as pessoas. Na contramão deste entendimento, o movimento Diálogos em Humanidades buscar difundir e tornar visível uma outra economia, na qual o dinheiro não é  a base fundamental. Marcos Arruda, economista e educador do PACS e integrante do programa que promove intercâmbios, encontros e iniciativas mundiais baseado no conceito de economia do amor, sintetiza o objetivo fundamental da iniciativa: “Nós ainda estamos numa civilização da economia de troca comercial. Tudo tem um preço. Todo mundo é valorizado pelo que tem. Nossa ideia é que ainda vamos chegar num outro patamar de humanidade, onde impere a gratuidade, a generosidade. Isso é economia também mas é uma economia da dádiva, do dom, o que chamamos de economia do amor”, define.

A nicaraguense Malena de Montis veio ao Rio participar do evento que marca o início do programa na cidade.  A ex-guerrilheira sandinista compartilhou com o grupo, reunido no auditório da Faculdade de Enfermagem da Uerj na última quarta-feira (22), parte de sua história de vida e seu entrelaçamento com o tema da economia do amor. Ainda menina, se inquietava com a diferença dos níveis sociais no seu país. Na adolescência, tendo casado e vivido a experiência da maternidade precocemente, também passou a questionar-se sobre as relações íntimas, afetivas, mas também sociais e públicas entre homens e mulheres. Lembra emocionada, da primeira vez que conviveu de perto com mulheres africanas submetidas aos processos de retirada do hímen e da experiência de acompanhar a vida de mexicanas que se arriscam na tentativa de cruzar a fronteira para os Estados Unidos. Inquietou-se uma vez mais com a realidade posta.

Após viver a experiência da Revolução Sandinista nos idos dos anos 1980, adquiriu uma compreensão que passou a guiar sua vida: o poder só faz sentido e só conduz à justiça se for coletivo e se garantir a participação equânime das mulheres. Junto de outras companheiras, do além mar de Nicarágua, fundou o movimento mundial “Associadas por lo justo” (Just associates).

A socióloga e educadora popular é enfática ao defender que a transformação das relações de poder passam por três locais fundamentais: a pessoa (o indivíduo, seu corpo e seu psique), a família e a sociedade. “Por isso, defendo que os processo de aprendizado, sobretudo da aprendizagem que visa a libertação, devem articular mente, coração e corpo”, declara citando “A pedagogia da esperança”, obra de Paulo Freire que também trabalha com essa ideia.

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Participantes em vivência conduzida pela pesquisadora Paula Raquel, coordenadora do grupo Saúde, Trabalho e Meio ambiente da Uerj

Após a provocação de Geneviève Ancel, administradora territorial do governo da grande Lyon (França) e co-fundadora dos Diálogos em Humanidade, que situou historicamente o movimento, coube aos participantes pensarem estratégias e caminhos possíveis para a implementação de ações localmente.  A partir da vivência conduzida pela professora Paula Raquel dos Santos, coordenadora do grupo de pesquisa Saúde, trabalho e Meio ambiente, ligado à Faculdade de Enfermagem da Uerj, o grupo construiu paineis  gráficos utilizando pintura e colagem na tentativa de significar a vivência daquele dia. Carolina, estudante do 8o período de enfermagem definiu o sentimento: “A mudança não acontece da noite pro dia. Ela é um trabalho de formiguinha”, declarou. 

Entenda

Diálogos em Humanidades é um movimento de alcance internacional, intergeracional e transdisciplinar, que tece laços de colaboração entre pessoas – cientistas, artistas, filósofos, trabalhadores, empresários, atores sociais, políticos, e associativos, sábios do mundo – e organizações e redes sociais e populares.

A iniciativa nasceu na França em 2002 reunindo adultos, jovens e crianças de todos os continentes. Após isso, são realizados em mais de 20 cidades do mundo em forma de fóruns globais sobre a questão humana, em tempos de crise de civilização. Segundo os organizadores, a iniciativa baseia-se na premissa de que todas as pessoas são “especialistas” em humanidade. Todas têm algo a partilhar e contribuir. Os Diálogos buscam agregar e articular essas pessoas e iniciativas, criar espaços de intercâmbio e de iniciativas de ação concertada. Eles incluem testemunhos de vida, partilhas de saberes e afetos, ágoras de intercâmbios temáticos, atividades artísticas e terapêuticas, feiras de trocas, brechó eco-solidário e outras atividades de economia solidária. As ágoras são espaços de diálogo sobre temas candentes, experiências inovadoras e antecipações criativas.

Saiba mais:

Acesse: http://dialoguesenhumanite.org/

Leia: Educação para uma economia do amor, de Marcos Arruda. São Paulo, ed. Ideias e letras: 2009.