Beatriz Noronha, do PACS
No último sábado (13), a Mostra Social em Movimentos – Crise Mundial e Alternativas, tratou das possíveis opções de enfrentamento ao modelo capitalista vigente e de outros modos de vida capazes de disseminar saídas e romper as estruturas da exploração desmedida e do lucro a todo custo.
Os filmes “Utopia no quintal”, de Fernando Moura, e “Culturas em Transação”, de Nils Aguilar, deram o ritmo e incitaram a reflexão em sequência. A mesa de debates, formada por Teo Cordeiro, do PermaRio, Melissa Bivar, do Cidades em Transição, e Sandra Quintela, do PACS, impulsionou diálogos e ideias – uma em especial se fez presente em todas as colocações: é preciso considerar as proporções e os tempos diferentes das cidades para saber que melhores ações fazem mais sentido para cada uma delas quanto a proposição de alternativas.
“Precisamos discutir de que formas escolhemos viver” – abrindo a discussão, Melissa Bivar fez uma breve análise do sistema capitalista e suas consequências diretas na vida das pessoas. “Vivemos em um sistema insustentável, egoico, por isso precisamos mudar nossas posturas, olhar melhor tudo a nossa volta e a nossa própria vida por outras pespectivas”, declarou. Lembrou ainda que o meio urbano corresponde a uma realidade muito peculiar, com tempo próprio, daí a importância em entender como lidamos com o coletivo, com as relações humanas e com as nossas próprias conexões interpessoais. “Durante muito tempo eu fiquei presa entre o que eu era e o que eu estava de fato fazendo” – sobre as mudanças pessoais que empreendeu para ir contra a hegemonia do trabalho e de todo um sistema que interfere diretamente no cotidiano dos indivíduos nas cidades.
Para o PACS, é fundamental pontuar os desafios hoje frente ao modelo político-econômico para entender como o estamos driblando. Em tom descontraído, Sandra Quintela chamou atenção para uma complicada constatação: “durante a semana, quando a Mostra trabalhava os aspectos da crise, as salas estavam cheias. Agora, que vamos falar sobre as alternativas, a mostra fica esvaziada”. Com humor, a colocação toca no cerne da questão – discutir as alternativas é um desafio geral que não pode ser adiado. “Estamos sempre envolvidos com a crise, mas é preciso olhar também pra fora dela e alcançar saídas”, ressaltou.
Sandra comentou ainda que se o modo de produção capitalista é regido pela lógica da acumulação máxima e da exploração da força de trabalho e da natureza, é preciso que a sociedade e as reflexões tenham organização e força de enfrentamento. “Nós estamos vivendo em um planeta contaminado que tende ao esgotamento”, e afirma, “precisamos radicalmente nos transformar e transformar a democracia em que vivemos, por isso precisamos estar nas ruas, por isso esse momento é muito importante!”. Exemplificou comentando que o PACS vem trabalhando ao longo dos seus 28 anos com duas frentes de programas que visam a crítica ao sistema capitalista e medidas de transformação: Autodesenvolvimento – Práticas Autogestionárias e Solidárias e Ecodesenvolvimento: Práticas Alternativas e Emancipatórias.
Para Teo Cordeiro, o momento em que vivemos pede a reflexão sobre dois conceitos: resiliência e auto-suficiência. A resiliência diz respeito ao quão preparados estamos para enfrentar momentos de crise – e como podemos nos preparar cada vez mais, efetivamente. “Em que nível estamos preparados para um momento de escassez? Não tem terra pra plantar na cidade, por isso é importante valorizar, por exemplo, os territórios da Zona Oeste do Rio, que ainda têm terra boa para cultivar”, chamou atenção.
O segundo conceito é o da auto-suficiência, e como podemos nos planejar para alcançá-la. Teo questiona sobre o que nós, enquanto sujeitos e cidadãos, conseguimos produzir de auto-suficiência e energia, ressaltando ser esse um dos caminhos alternativos ao enfrentamento do capitalismo. Assim, ações como a permacultura, agricultura urbana, hortas comunitárias, assentamentos sustentáveis, economia solidária, sistemas de trocas, oficinas de formação, entre outras apontam para outros modos de viver e fazer funcionar o mundo a nossa volta. Lembrou ainda que acontece no Grajaú uma feira de troca, produtos orgânicos e sustentabilidade conhecida como “Desapegue-se”, como exemplo de novas posturas a serem viabilizadas e compartilhadas.
Diante de inúmeras alternativas à forma de desenvolvimento que nos é imposta, um desafio em particular deve ser encarado como ação urgente e orgânica para construir novas cidades e formas de viver em sociedade, e passa obrigatoriamente pela democratização dos meios de comunicação. Na mesa, foi fala comum a preocupação com os perigos do monopólio da mídia, que servindo ao modo de produção capitalista, dificulta e sufoca toda e qualquer informação e pensamentos que busquem o seu oposto. “Não é apenas a discussão das alternativas mas a sua visibilidade que está em jogo em função do monopólio da informação”, destacou Fernando Moura. Há, desse modo, um pesado trabalho de comunicação a ser feito em oposição a mídia hegemônica, a fim de partilhar e trocar informações sobre novas formas de enfrentar a nossa realidade, para além do sistema político, cultural e econômico atual.
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