rosimeirefoto: Marina Sila

Por Iara Moura

Rosimeire Almeida mora em Santa Cruz, bairro da Zona Oeste do Rio, há 19 anos. Aos 47, a dona de casa divide-se entre as atividades domésticas e os cuidados com a neta de 11 meses. A partir de 2010, Rosimeire teve sua rotina alterada: “Depois disso foi uma doença atrás da outra”, conta. Ela lembra que a atividade corriqueira de estender a roupa no varal tornou-se, a partir desta data, um ato perigoso. Se já era possível sentir os efeitos das mudanças no ar, a poluição ficava ainda mais evidente na roupa impregnada de poeira prateada. Enquanto trabalhava, Rosimeire inalava e era “banhada” pelo pó. Primeiro veio a rinite alérgica, depois o diagnóstico de sinusite. Em 2013, a irritação atingiu também os olhos. A retina ficou repleta de manchas vermelhas e bolhas. A vista turvou-se.

A chamada “chuva de prata” é parte da vida dos moradores de Santa Cruz desde a instalação da ThyssenKrupp Companhia Siderúrgica do Atlântico (TKCSA) em 2010. O fenômeno consiste na dispensa dos resíduos da atividade industrial no ar e é apontado como causa do adoecimento da população que vem sendo acometida por enfermidades respiratórias, dermatológicas, oftalmológicas, além do aumento de casos de hipertensão e câncer.

Rosimeire mostra o laudo de agosto de 2014 onde o médico atesta que a inflamação nos seus olhos decorre da poluição ambiental. Em posse do diagnóstico, ela aguarda agora o resultado de uma ação de reparação de danos que tramita na Defensoria Pública. Enquanto espera, teme pela saúde da neta: “ela já tá com problema respiratório. Pega um resfriado atrás do outro”, lamenta.

 

Missão parlamentar fiscaliza direito à saúde

Na última sexta-feira, dia 5, parlamentares da Câmara Municipal do Rio de Janeiro visitaram equipamentos públicos de saúde que atendem aos moradores/as da região da Reta da João XXIII, em Santa Cruz. O objetivo da missão era averiguar denúncias dos moradores preocupados com o adoecimento crescente e com a falta de atendimento.  Os vereadores Eliomar Coelho (Psol) e Reimont (PT) visitaram o Posto de Saúde da Família Dr. Catapretta e o Posto Municipal Ernani Braga acompanhados de representantes dos mandatos do vereador Renato Cinco (Psol) e do Deputado Estadual Marcelo Freixo (Psol). Entidades como o Fórum de Saúde, o Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe), o Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul (Pacs) e o Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) também acompanharam a missão.

tkcsa da sacada

Durante a visita às unidades, os integrantes da missão conversaram com funcionários e usuários. A primeira unidade visitada, o posto Posto Dr. Catapretta localizado a cerca de 400 metros da siderúrgica, é a principal porta de entrada da população diretamente atingida pela poluição. A empresa funciona desde sem licença ambiental e é isenta de tributos estaduais e municipais desde a sua instalação.

Em seguida, os parlamentares reuniram-se com moradores da Reta da João XXIII no Ecomuseu de Santa Cruz para ouvir as denúncias e apresentar dados colhidos na missão. Os moradores enumeraram os problemas de saúde mais comuns e denunciaram a falta de profissionais. Segundo fomos informados, no posto Ernani Braga cada agente de saúde é responsável pelo atendimento de cerca de 300 famílias e cada médico por 1800. Outro problema é a falta de profissionais alergistas, pneumologistas, dermatologistas e oftalmologistas na região.

“A ideia é a partir da visita gerar um relatório que permita avaliar a situação da saúde no local e que aponte perspectivas de efetivação desse direito que vem sendo reiteradamente violado em nome do modelo de desenvolvimento imposto a quem vive aqui”, explicou Karina Kato, economista e pesquisadora do Pacs que acompanha a resistência dos moradores de Santa Cruz desde 2009. O lançamento do relatório está previsto para o início de 2015.

Contraponto

A TKCSA se pronunciou sobre as denúncias:

“Com relação à qualidade do ar, o monitoramento é permanente e os resultados mostram que o ar em Santa Cruz está dentro do parâmetro legal. Com relação à saúde, a TKCSA reafirma sua convicção de que não há evidências que comprovem qualquer relação entre suas operações e a condição de saúde da população vizinha”.