No próximo domingo, 8 de março, o projeto Domingo é dia de Cinema apresenta o filme Cássia Eller seguido de debate conduzido pela economista e coordenadora do Pacs, Sandra Quintela, pela jornalista Gizele Carolina e pela cantora Marina Iris. Marcando o dia internacional de luta da mulher, o projeto completa 15 anos promovendo o cinema como instrumento e espaço de formação crítica para estudantes de cursinhos populares do Rio de Janeiro. O evento acontece a partir das 9h no Estação Net Botafogo. O ingresso custa 4 reais e a sala está sujeita a lotação.
Para Sandra Quintela, a iniciativa busca estimular os cursos pré-vestibulares comunitários a ampliar os horizontes do conhecimento através de filmes relevantes. “Esse em particular, realizado com muita sensibilidade, nos traz de volta essa figura que mexeu com a sociedade brasileira. Cassia Eller. Uma mulher ousada. Corajosa. Assim como muitas mulheres, feministas ao longo da historia. O que nos faz feminista é exatemente isso: a ousadia e a coragem de mudar nossos destinos. Cassia Eller não se assumia como feminista, porem, sua vida foi a de uma”, declarou.
Livre talvez seja o adjetivo que mais define a vida e a obra da cantora Cássia Eller. A roqueira que embalou gerações de avós, mães e filhas, não se deixou intimidar pelos olhares recriminantes da cultura machista que sempre aguarda das mulheres uma atitude comportada, meiga e servil diante da vida. Não se deixara intimidar nem mesmo pelas chantagens indiretas ou declaradas da indústria cultural que também se apressa a circunscrever as artistas mulheres a papeis bem definidos. Musas, femme fattales, divas pop, popozudas, rainhas disso ou daquilo. Cássia e sua voz rouca desafiaram os rótulos trazendo pra cena musical brasileira uma mulher, roqueira, lésbica e mãe.
Vez por outra, achando pouco a ousadia incorporada em sua figura de mulher lésbica, a cantora invocava a rebeldia e o escárnio do bom rock and roll, mostrava os peitos e dançava de corpo e alma libertos. Há algo mais transgressor no Brasil de hoje que uma mulher, como se diz, “dona de si”? É instigante e encorajador relembrar a trajetória de Cássia (e poderia ser de tantas outras mulheres como as que ilustram o Mural Memória das Mulheres Negras que postamos aqui no dia da consciência negra) para lembrarmos a potência criativa e libertadora da música, da arte e da organização das mulheres.
Mas, mais do que isso, é revolucionário relembrar trajetórias desta e de tantas outras brasileiras num país onde milhares de mulheres são vítimas de violência todos os dias (veja dados sobre isso). Num país onde o corpo das mulheres, sobretudo das pobres e negras, é ainda objeto de violência e controle por parte do Estado, da medicina, do judiciário, da força policial. Onde parece se agigantar os fundamentalismos que oprimem, violentam, matam e lucram com a nossa dor, é mais que nunca, um afronto à ordem imposta relembrar a trajetória de mulheres que ousam não se submeter. Cássia é uma delas. Dentre tantas outras que no próximo 8 de março deverão marchar, batucar, grafitar e ocupar o espaço público com mensagens de liberdade por todo o mundo.
Para mais informações sobre o evento: https://www.facebook.com/events/358982234294046/
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