Privatização das Pirâmides do Egito –

Não são apenas os cariocas que estão lutando contra a privatização daquilo que consideram sua maravilha da humanidade, o estádio do Maracanã, “templo sagrado” do futebol.

No Egito pós-Primavera Árabe, a população está se insurgindo contra um projeto do governo de conceder à iniciativa privada as monumentais Pirâmides de Gizé, a famosa Esfinge e os templos de Abu-Simbel e Luxor. A idéia partiu do intelectual Abdallah Mahfouz, que argumenta a favor do projeto afirmando que a debilitada economia do país ganharia novo fôlego devido ao aumento do turismo e atração de capitais.

O projeto ganhou apoio da equipe econômica do atual governo, dirigido pela Irmandade Muçulmana, partido que professa uma versão fundamentalista e intransigente da religião islâmica, tendo aprovado uma Constituição que restringe  direitos das mulheres e homossexuais.

Mas defende com fervor igualmente religioso os direitos do capital e recebe apoio dos EUA e FMI. O Ministro das Finanças chegou a pedir ao Supremo Conselho das Antiguidades (responsável pelos templos) que estudasse a proposta de privatização. Há rumores de que uma companhia do Catar esteja disposta a oferecer U$ 200 bilhões pela exploração comercial dos sítios arqueológicos, por um contrato de 5 anos. Outras fontes consideram as cifras exageradas.

Arqueólogos de todo o mundo se manifestaram contra a medida. O secretário-geral do Conselho Supremo das Antiguidades egípcio, Adel Abdel Sattar, também é contra a proposta, mas revelou em entrevista à televisão que vem sofrendo pressões para liberar os projetos ligados ao lobby das empresas de turismo internacional que operam no Egito.

O descaso da Irmandade Muçulmana com o patrimônio histórico da antiguidade egípcia (anterior a era do monoteísmo judaico-cristão-islâmico) relembra o episódio da destruição das estátuas de Budas gigantes pelo regime Talibã, no Afeganistão, em  março de 2001, antes mesmo dos atentados de 11 de setembro. A diferença é que daquela vez não havia a parceria público-privada (PPP) com o capital transnacional: os Talibãs implodiram as estátuas – e, junto com elas, parte da história da Humanidade – em um gesto bárbaro; os empresários de turismo agora pervertem a idéia de monumento histórico em outro.

 

Referências:

http://articles.latimes.com/1995-07-27/business/fi-28351_1_egypt

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2001/010302_buda.shtml

http://rt.com/news/egypt-pyramids-renting-proposal-718/